sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Política 2.0

Bitácora
Martes 22 Diciembre 2009

(Novo!)

[Artigo publicado no Blog «Comunicacion/es», de www.tendencias21.net.]

Algo muy profundo está cambiando en las relaciones entre política, democracia y comunicación. La «política broadcasting», amiga íntima de los viejos «spin doctors», está cediendo el paso a la «política digital», donde los ciudadanos ya no se confunden con los espectadores y, por eso, no tienen que pedir permiso a los «gatekeepers» para acceder al espacio público, sea para argumentar sea para informarse. Porque la libertad está cada vez más en sus manos. Por João de Almeida Santos

Há algum tempo, numa conferência na «Bocconi», de Milão, o sociólogo Manuel Castells disse mais ou menos isto: «a “mass self communication” foi um dos elementos fundamentais para a vitória de Obama». O que é que significa este novo conceito, introduzido precisamente por Castells? Significa o seguinte: «comunicação individual de massas». Um aparente paradoxo que traduz bem a possibilidade de afirmação do indivíduo singular no interior de um vasto universo de indivíduos globalizados, no interior de uma espécie de multidão solitária ou de solidão múltipla, glosando Virilio.
Ou seja, trata-se de um novo conceito que procura traduzir, de forma rigorosa, os efeitos sociais da comunicação em rede. Este modelo de comunicação rompe com uma característica fundamental da comunicação própria dos chamados «media» tradicionais, da imprensa à televisão. Esta era uma comunicação de tipo «broadcasting», de «um-para-muitos», que partia de um centro emissor e se dirigia precisamente a receptores indiferenciados, às massas.
O espaço público era controlado pelos agentes orgânicos do sistema mediático e o acesso a ele dependia da sua vontade orgânica. Tecnicamente, esta função de controlo é conhecida como «gatekeeping», sendo os seus agentes designados como «gatekeepers», os «agentes orgânicos do sistema mediático». Ora, a nova «comunicação individual de massas», tornada possível pela Rede, precisamente porque é, ao mesmo tempo, individual e de massas, vem romper com esta exclusividade de controlo, no acesso ao espaço público, pelos «gatekeepers» e permitir que cada indivíduo possa, autonomamente, sem pedir licença a ninguém, entrar directamente neste espaço, condicionar as agendas pública e política e criar uma rede de relações completamente diferente e autónoma relativamente ao espaço público tradicional, físico ou mediático.
Este novo modelo de comunicação vem, em primeiro lugar, interagir fortemente com a comunicação de tipo «broadcasting» dos «media» tradicionais, retirando-lhes a exclusividade no acesso ao espaço público e ameaçando mesmo o seu domínio sobre um espaço que deixou de ser exclusivamente físico ou mediático para passar a ser «espaço público digital».
Mas, em segundo lugar, e como é natural, este novo modelo comunicacional também vem interagir fortemente com a política. Como sabemos, uma das tendências que mais se impuseram nas últimas décadas foi a de uma crescente homologação do discurso político às exigências operativas do discurso mediático, em particular ao discurso televisivo, com os resultados simplificadores que se conhece.
Poderíamos, assim, dizer que temos vindo a viver num tempo de política «broadcasting». Este tipo de política corresponde, assim, àquilo que muitos designam por «democracia do público», herdeira da velha «democracia de partidos». Ora, a emergência da «mass-self communication» está já a produzir efeitos não só no plano da reorganização do próprio espaço público, mas também no plano da política. Efeitos no próprio modelo de comunicação e na sua lógica interna.
Com efeito, este novo modelo substitui a comunicação de tipo vertical por uma comunicação de tipo horizontal, ou seja, substitui a comunicação de tipo «one-to-many» pela de tipo «many-to-many». De uma lógica de tipo substancialista, determinada pela relação sujeito-objecto, passa-se a uma lógica de tipo relacional, entre variáveis equivalentes entre si e, portanto, intercambiáveis. O que significa isto? Significa que, neste modelo de comunicação, o acesso dos indivíduos ao espaço público passa a depender somente deles próprios e que a partir da base do sistema social é possível entrar directamente no espaço público e condicionar as próprias agendas mediática, política e pública. Mas significa também que, a partir da base, é possível construir redes de relações imateriais que, depois, se podem replicar e alargar na sociedade como redes de relações materiais interpessoais. É o espaço próprio de uma nova política: a «política digital».
Todos nos lembramos – a propósito da relação entre rede (neste caso, móvel) e política - do que aconteceu em Espanha, na fase final das eleições legislativas de 2004. Todos vimos o que aconteceu nas eleições americanas. É o próprio Castells que o diz: «a mass self communication foi um dos elementos fundamentais para a vitória de Obama». Mas ele diz mais: 67% dos donativos recolhidos pelo Senador do Illinois chegaram via Internet (contra os 20% de Hillary Clinton, nas primárias, e os 17% de McCain).
São dados tão significativos que não é possível deixar de tirar ilações sobre os efeitos da «mass-self communication». Mas não nos iludamos. A política «broadcasting» ainda continua muito forte, mesmo entre aqueles que já se converteram à nova realidade comunicacional. Incluído Barack Obama. É claro que a extrema personalização da política contribui fortemente para isso. E que as consequências disto ainda são muito relevantes: segundo informações do jornalista italiano Mario Calabrese, Obama terá gasto, em política «broadcasting», com um «spot» de meia hora, transmitido pelas Cbs, Nbc e Fox, cerca de 5 milhões de dólares. Um excesso! Mas a verdade é que não foi nisto que residiu a verdadeira novidade.
Que consequências poderemos tirar desta nova realidade? Em primeiro lugar, que continua forte a «política broadcasting», a tal que sempre coexistirá com a «forma-sofá» de ver o mundo. Mas, em segundo lugar, que está a emergir um cidadão capaz de transformar o mundo a partir da sua própria «subjectividade-em-rede». E esse está a crescer e a multiplicar-se à margem da «política broadcasting». É a emergência e a afirmação daquele poder a que Jesús Timoteo - no seu excelente livro sobre a «Gestión del poder diluído», de 2005 – chama precisamente «poder diluído»!

2 comentários:

  1. Li e reli o "Comentário do dia" sobre "Casamento: o nome e a coisa" e na generalidade subscrevo. De facto, se na questão do “direito” a aceder a uma instituição, o casamento, apenas e só no plano civil, a questão da orientação sexual não deve ser entrave como evolução civilizacional, concordo que no plano da representação cultural a questão pode e compreende-se que seja “fracturante”, o que contudo não deve igualmente ser entrave, o tempo se encarregará de a dissipar. De resto, a procura de qualquer forma que juridicamente garanta os mesmos deveres e direitos do casamento escamoteando a designação “casamento” apenas sublinha o preconceito semântico. Acho contudo uma “mariquice” que os homossexuais queiram casar fazendo finca-pé na instituição “casamento” essencialmente também por isso mesmo, por uma questão semântica/representativa mas quanto a isso estão no seu direito de mariquice que lhes é inerente à orientação sexual. Mas, atenção a homossexualidade não tem orientação ideológica, não é nem nunca foi uma bandeira de esquerda, o que acontece é que a esquerda, como espaço ideológico liberal e libertário (senso lato) tem muito mais facilidade em assumir e o dever de pugnar pela resolução das questões das minorias, como é o caso, sem preconceitos nem outro tipo de reservas afrontando as matrizes culturais ancestrais se assertivas com o seu tempo como me parece também ser o caso.
    A questão da adopção é outra que não deve ser misturada com esta e que tem muito, mas mesmo muito que se lhe diga. Deixo para já apenas a opinião que cada caso de adopção deve ser analisado por si e igualmente sem preconceitos sexistas. Não está demonstrado que crianças adoptadas por casais homossexuais venham a ser homossexuais ou venham a correr qualquer espécie de risco em relação à sua evolução “normal” como pessoas. O que se sabe é que crianças adoptadas por casais "de risco" ( drogas, alcool, violência doméstica, desemprego e dificuldades financeiras, instabilidade intra-familiar), independentemente do sexo dos conjuges, sejam crianças com maior propensão a desvios de vária ordem sendo o insucesso escolar, a violência, o consumo de drogas ou outros consumos aditivos os principais.
    Mas repito, parece-me um bom texto, se calhar esbatia uma possível leitura que cola o "movimento gay" à esquerda (ou a uma certa esquerda que todos sabemos muito bem o que quer dizer…).
    Ah, Maio de 68 e tal, não ia por aí, de facto a “instituição burguesa” foi posta em causa como foi posto o capitalismo e a psiquiatria, a história encarregou-se de depurar as coisas e não faz muito sentido trazer esse argumento porque o anti-capitalismo actual é uma luta da esquerda radical (muito para lá do bloco) tal como dos movimentos neo-nazis, e a antipsiquiatria foi absorvida e digerida pela própria psiquiatria. O casamento e o não casamento como tantos casais actualmente assumem através de uniões de facto não é de todo uma questão ideologicamente sustentada.

    Vasco Queiroz

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  2. «Nós temos uma forma de governo que não vê com inveja as constituições dos vizinhos, e não só não imitamos outros como somos exemplo para outrem. Quanto ao nome, ela chama-se democracia, uma vez que é administrada não já para o bem de poucas pessoas, mas de um círculo mais vasto: mas, perante as leis, todos, nas controvérsias privadas, gozam de igual tratamento; e segundo a consideração de que cada um goza, uma vez que em qualquer campo se distingue, não tanto pelo seu partido quanto pelo seu mérito, é preferido nos cargos públicos; nem, por outro lado, a pobreza, se alguém está em condições de fazer alguma coisa de útil para a cidade, é impedimento a sua obscura posição social. Como vivemos em plena liberdade na vida pública, assim naquela vigilância recíproca que se verifica nas acções de cada dia, nós não nos sentimos feridos se alguém se comporta a seu gosto, nem lhe infligimos com o nosso ressentimento um dano que, se não é um verdadeiro castigo, sempre é algo pouco agradável. Nós que, serenamente, tratamos dos nossos assuntos privados, quando se trata dos interesses públicos temos um incrível medo de descer à ilegalidade: somos obedientes a quantos se sucedem no governo, respeitosos das leis e, entre elas, de modo especial, às que tutelam quem sofre injustiça e às que, apesar de não se encontrarem escritas em nenhum livro, levam à desonra universal quem as não respeita»

    pericles sec: v

    parece-me a mim que passado tanto tempo ainda não vivemos em total democracia, mas éo mundo que temos...

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